quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

2010 - O ANO DO RASTILHO

O ano acaba muito pior do que começou. Muito pior porque não há esperança que resista a tanta trapalhada que se vai fazendo, num país que ruma sem bússola ou gps, mas à vista (turva) daqueles que nos governam.
Seria óptimo terminarmos o ano com boas expectativas para o vindouro, mas realisticamente não é possível augurar tal optimismo, nem engolindo todas as 12 passas com o mesmo desejo.
Depois de todos os PEC’s, austeridades e afins, o país continua pior do que nunca. Qual pântano de Guterres, que perante o que se assiste era uma pocinha. Mas, e juro-vos que não sou nada pessimista, 2010 foi só o rastilho, porque a bomba rebentará brevemente em meados do próximo ano.
Depois do senhor engenheiro nos entrar no bolso com aumentos de IVA, redução de abonos de família e benefícios fiscais, reduções de vencimentos e outros tais, que já apanham todas as classes que não só a sacrificada classe média, os ratings da divida pública continuam a baixar e Portugal está em queda livre, aliás em voo picado, rumo à cauda da Europa.
Com FMI ou sem ele, 2011 vai ser um ano de pura recessão, com aumento de desemprego e aumento da pobreza, chegando em muitos casos a pobreza extrema, sem sinais de retoma à vista, que nos permitam respirar e depositar esperanças no nosso futuro e dos nossos filhos.
E, sem margem para dúvidas, virá um PEC V (santa incompetência dos 4 anteriores), com muito pouco para cortar que ainda existe (pois as mordomias do Estado e das Autarquias são para manter, são sagradas), não restará outra alternativa senão um despedimento em massa na função pública, aquela barriguinha que ainda tem uma gordurinha apetitosa para a faca afiada de José Sócrates.
Aliás, o PS vai dando sinal disso. Ainda na semana passada Vital Moreira assume frontalmente que se há que cortar na despesa pública, que se corte nas despesas com pessoal. Um aviso à navegação neste final de ano.
Estado e Câmaras Municipais não quiseram acordar quando tal se impunha. Foi fartar vilanagem com assessores, vereadores, directores, avençados e outros mais. Quadros orgânicos reformulados para muitas e novas chefias. Agora vai custar a todos, e muito mais, porque o estado das nossas finanças não se compadece com cortezinhos, mas apenas com cortes de espada, que deixarão muitas famílias sem perspectivas de futuro, sem condições, sem bens elementares e básicos.
As Câmaras Municipais que durante anos e anos engordaram os seus quadros, muitas das vezes com pessoas com baixa qualificação, vão ter de assumir a responsabilidade na 1.ª pessoa do singular ou plural, porque a culpa já não é, depois de tanta trapalhada, só do governo ou dos governos e solteira é que não é mesmo.
E essas pessoas, que durante anos não tiveram formação, não tiveram incentivo à qualificação, não têm aptidão para enfrentar o mercado de trabalho, que está saturado, e só revela (poucas) oportunidades às pessoas mais qualificadas.
Vamos preparar-nos para a bomba e para os estilhaços e ter uma esperança forte: Que alguém, seja o Presidente da República, seja a Assembleia, mostrem o cartão vermelho a este Governo, que não é nem de direita nem de esquerda, e que os partidos não se acobardem na hora da verdade e tenham a coragem de devolver ao povo o direito mais elementar de uma democracia representativa.
Nas autarquias e fruto do aperto de cinto que estrangula a cintura de muitas, associado à limitação de mandatos, iremos, já a partir do próximo ano, assistir ao abandono voluntário de alguns autarcas que se irão pôr ao fresco. Outros que paguem as dividas, porque eles não são contabilistas!
E os “yes men” que engordaram à conta do erário vão viver a sua orfandade sentindo na pele as dificuldades do mundo real, daquele que ignoraram e ajudaram a ignorar. Alguns contribuirão para a taxa de desemprego e outros aprenderão a viver sem mordomias ou falsos títulos.
Andámos enganados durante muitos anos. E o engano vai-nos custar caro. Quem vota não se pode desresponsabilizar das escolhas que fez. Como diz Carlos Drummond de Andrade, “Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas."