quarta-feira, 23 de março de 2011

A Crise Provocada

A vitimização em política já não é novidade. Hoje, ou melhor, nos últimos dias, temos assistido ao desempenho desta arte por José Sócrates, no seu (re)conhecido registo audaz e persistente.
Confesso que pensei que Sócrates, quando achasse que seria o momento de sair, teria a coragem do seu camarada António Guterres, reconhecendo os erros de governação e fazendo o “mea culpa”, ainda que também em registo de vítima. Nunca pensei que recorresse a este artefacto populista de ele próprio causar uma crise política, atirando as culpas para cima da oposição.
A sua arte criativa deu-se a conhecer nos últimos 6 anos. Mas o conhecimento foi tão evidente que não acredito que os portugueses ainda consigam ir atrás de “fait divers”.
Há 6 anos atrás Sócrates venceu as eleições prometendo mundos e fundos aos portugueses. Ele era empregos, prosperidade, não aumento de impostos, e tudo o que de um paraíso um cidadão possa almejar. Prometeu e não cumpriu. A sua governação foi atravessada por uma crise mundial. Perdeu a maioria absoluta e demonstrou não ser capaz de fazer Portugal sair da crise.
Depois de lhe terem sido dadas todas as oportunidades de governar, mesmo num cenário de minoria parlamentar, recusou o diálogo. Usava a palavra mas agia em sentido contrário. Dizem os defensores das governações sem maioria absoluta que este resultado obriga ao diálogo e à concertação, potenciando a participação e a democracia, como meios para fins mais eficientes.
Depois de conciliar posições com o PSD para os PEC anteriores, que tão necessários se demonstravam, Sócrates comunica o PEC IV à Europa, à revelia do Presidente da República e da oposição. Não me restam quaisquer dúvidas que Sócrates, reconhecendo a queda livre em que estava a entrar, decidiu antecipar as eleições, antes que a sua representatividade já estivesse tão fraca, as suas medidas tão ineficazes e impopulares que Cavaco não tivesse outra saída senão apresentar-lhe a porta dos fundos.
A crise foi despoletada e intencionalmente provocada por Sócrates. Está à vista! E mesmo que alguns não o queiram reconhecer, expliquem-me a razão pela qual o Governo não deixou cair o PEC IV antes da discussão de hoje? Porque é que o Primeiro-Ministro anunciou logo que se o PEC fosse votado e chumbado se demitia? Onde fica o interesse nacional (na perspectiva dele, claro)? Onde fica a abnegação democrática tão necessária à politica?
Assim, fruto desta encenação, José Sócrates colocou-se no papel da vítima, que até lhe vai permitir a recandidatura.
Será muito bom para Portugal que os votantes reconheçam que é necessário haver um Governo de maioria absoluta na sequência das próximas eleições. Não sairemos da crise só por haverem eleições legislativas e mudarmos de governo.
E há um risco que vai pairar sobre o país. Se se confirmar a candidatura de Sócrates, parece claro que sairá derrotado. Ficará no Parlamento a tentar desgastar o Governo eleito, augurando uma legislatura breve, comparando, entravando, num mau exercício democrático, à espera que o poder lhe caia rápida e novamente nas mãos. E a sua demagogia que já demonstrou não ter limites, vai conduzir a uma instabilidade se o PSD não tiver, sozinho ou em coligação pós-eleitoral, a maioria parlamentar.
Acredito que Pedro Passos Coelho está preparado para governar o país. Acredito que se rodeará dos melhores, que não cederá a pressões. A sua determinação está a vista. O seu empenho, competência e o seu sentido de estado são conhecidos. Desenganem-se os aparelhistas do PSD que estarão já a esfregar as mãos. Os sacrifícios continuarão e estou certo que PPC dará o primeiro exemplo, com um Governo pequeno, com a eliminação de institutos, empresas e delegações inúteis e despesistas. PPC sempre o disse: O Estado tem de se centrar nas suas funções essenciais e cumpri-las eficazmente. E pode fazê-lo com menos cargos, assessores, com menos carros, menos mordomias, e muito mais eficiência.
O PSD tem obra feita na área social e preocupa-se com a dignidade humana e com os mais desfavorecidos. Essa tem de ser a prioridade na actual conjuntura, substituindo os cortes das pensões e dos baixos rendimentos perpetrados pelo PS, por medidas com menos impacto social e com muito maior eficácia para alavancar o nosso país. Para cumprir o défice não se pode colocar o acento tónico nos (parcos) rendimentos dos portugueses, quando o Governo não tem coragem de reformar o estado e por aí, por si próprio, começar a cruzada do controlo.
As instâncias europeias e internacionais vão estar de olho em nós. Mas vamos tomar este período menos bom, provocado pelo governo socialista, como um ganhar de balanço para arrancarmos em força para fora da crise.