terça-feira, 28 de junho de 2011

OS POLÍTICOS NÃO POLÍTICOS

Os últimos actos eleitorais têm sublinhado uma tendência preocupante em Portugal: O grave acentuar dos níveis da abstenção.
Nas últimas eleições para a Assembleia da República, se os abstencionistas formassem um partido, este seria o claro vencedor, postergando as restantes candidaturas para percentagens muito baixas.
E este facto, apesar de diagnosticado pela esmagadora maioria dos partidos, após todos os actos eleitorais, não consegue ser estancado. Falta de ideias ou falta de vontade?
Alguns dizem que a única solução é o voto obrigatório. Eu acho que existem outros passos a serem dados antes de obrigar os portugueses a votar, passos que tornem o voto um acto voluntário e de responsabilidade, uma vontade de fazer valer a soberania que cada um de nós, cidadãos, tem de forma originária.
Temos uma democracia representativa assente em partidos políticos. E é esta forma de governo que temos de melhorar. Não são os movimentos de independentes que vão salvar a nossa democracia nem combater a forte abstenção.
Tenho para mim que em Portugal, e assentando a democracia nos partidos políticos, os “independentes” de independência têm muito pouco.
E existem 5 tipos de independentes:
1. Os indivíduos que se zangam com o seu partido ou dele são “corridos” e concorrem como independentes (como se a ideologia se esfumasse de um dia para o outro);
2. Os que se aproveitam do cansaço do povo dos políticos e da política para granjear mais uns votos e o poder;
3. Aqueles que concorrem sob a sigla dos partidos, utilizam a “máquina partidária” para as eleições, tornando desnecessária a maçadora recolha de assinaturas, mas que se afirmam independentes (quando convém, e “dependentes” quando não lhes convém a independência);
4. Os verdadeiros independentes, que são aqueles que efectivamente não se revêem em nenhuma das ideologias do espectro partidário português, não pretendem ser militantes, mas que aceitam exercer um cargo político, com ou sem uma sigla;
5. Os políticos não políticos, que são aqueles que exercem cargos políticos, mas apontam os políticos como os outros, os menos bons (que geralmente acumulam uma das 3 primeiras classificações);

A palavra independente é mal utilizada na política. Desde logo porque é oposta de dependente. Esta dependência não acontece muitas vezes, já que muita gente, não obstante a sua filiação partidária ou na qualidade de simples simpatizante, não se inibe de expressar a sua opinião, longe de tendências tribais ou disciplinadoras. E se alguém concorre sob a sigla de um partido é porque, sendo sério, partilha da ideologia e do conteúdo programático daquele partido, ainda que com algumas reservas. Tem pois de ser simpatizante, sem que tenha de ser militante (a este cabem alguns deveres).
E sou daqueles que acham que os partidos devem estar abertos àqueles que, não querendo ser militantes, concordem com os princípios programáticos de um partido, e com ele, participem na vida democrática, sem se envergonharem do título de político.
Mas o pior papel é o dos políticos não políticos. O político não político é o indivíduo que, sem ter nenhuma filiação partidária, aceita o exercício de cargos políticos (aqueles que derivam da função política do Estado prevista na Constituição), mas que teima em dizer que não é político, como se tal manchasse o seu currículo ou fosse pejorativo.
A política é e tem de continuar a ser uma arte nobre, respeitável, e não um adjectivo mal cotado, desprestigiante.
Sem escamotear a responsabilidade dos dirigentes partidários que, muitas vezes, afastam os interessados pela política, mas desinteressados da vida partidária, são estes senhores e estas senhoras, que exercendo um cargo político e se envergonham de tal acto, que muito contribuem para o empobrecimento da nossa democracia, deitando abaixo as instituições partidárias e fomentando o crescimento da abstenção.
Se uma pessoa tem a sua profissão, o seu reconhecimento enquanto profissional, não é por exercer um cargo político que vai ser pior do que os outros. Existem missões na vida das pessoas que lhes determinam um período em que “estão” políticos, devendo assumir esta qualificação com sentido de estado, dignidade e orgulho.
É certo que a política exige, cada vez mais, preparação técnica. Veja-se o novo Governo, os bons currículos dos governantes e a capacidade que lhes é exigida para as suas difíceis funções. Mas não devemos distinguir os que são políticos dos técnicos, ou daqueles que, não tendo currículo em nenhuma área que interesse à política, aceitam dedicar o seu tempo à política, ao estado, aos concidadãos.
Se alguém está a exercer um cargo político, é político. E é com gestos destes e com pessoas que dedicam uma parte da sua vida, com ou sem sacrifícios financeiros, à causa pública, sem se auto-excluírem da política, que os nossos partidos e a nossa democracia ficará melhor e mais forte e levará a que mais pessoas votem.