A vitimização em política já não é novidade. Hoje, ou melhor, nos últimos dias, temos assistido ao desempenho desta arte por José Sócrates, no seu (re)conhecido registo audaz e persistente.
Confesso que pensei que Sócrates, quando achasse que seria o momento de sair, teria a coragem do seu camarada António Guterres, reconhecendo os erros de governação e fazendo o “mea culpa”, ainda que também em registo de vítima. Nunca pensei que recorresse a este artefacto populista de ele próprio causar uma crise política, atirando as culpas para cima da oposição.
A sua arte criativa deu-se a conhecer nos últimos 6 anos. Mas o conhecimento foi tão evidente que não acredito que os portugueses ainda consigam ir atrás de “fait divers”.
Há 6 anos atrás Sócrates venceu as eleições prometendo mundos e fundos aos portugueses. Ele era empregos, prosperidade, não aumento de impostos, e tudo o que de um paraíso um cidadão possa almejar. Prometeu e não cumpriu. A sua governação foi atravessada por uma crise mundial. Perdeu a maioria absoluta e demonstrou não ser capaz de fazer Portugal sair da crise.
Depois de lhe terem sido dadas todas as oportunidades de governar, mesmo num cenário de minoria parlamentar, recusou o diálogo. Usava a palavra mas agia em sentido contrário. Dizem os defensores das governações sem maioria absoluta que este resultado obriga ao diálogo e à concertação, potenciando a participação e a democracia, como meios para fins mais eficientes.
Depois de conciliar posições com o PSD para os PEC anteriores, que tão necessários se demonstravam, Sócrates comunica o PEC IV à Europa, à revelia do Presidente da República e da oposição. Não me restam quaisquer dúvidas que Sócrates, reconhecendo a queda livre em que estava a entrar, decidiu antecipar as eleições, antes que a sua representatividade já estivesse tão fraca, as suas medidas tão ineficazes e impopulares que Cavaco não tivesse outra saída senão apresentar-lhe a porta dos fundos.
A crise foi despoletada e intencionalmente provocada por Sócrates. Está à vista! E mesmo que alguns não o queiram reconhecer, expliquem-me a razão pela qual o Governo não deixou cair o PEC IV antes da discussão de hoje? Porque é que o Primeiro-Ministro anunciou logo que se o PEC fosse votado e chumbado se demitia? Onde fica o interesse nacional (na perspectiva dele, claro)? Onde fica a abnegação democrática tão necessária à politica?
Assim, fruto desta encenação, José Sócrates colocou-se no papel da vítima, que até lhe vai permitir a recandidatura.
Será muito bom para Portugal que os votantes reconheçam que é necessário haver um Governo de maioria absoluta na sequência das próximas eleições. Não sairemos da crise só por haverem eleições legislativas e mudarmos de governo.
E há um risco que vai pairar sobre o país. Se se confirmar a candidatura de Sócrates, parece claro que sairá derrotado. Ficará no Parlamento a tentar desgastar o Governo eleito, augurando uma legislatura breve, comparando, entravando, num mau exercício democrático, à espera que o poder lhe caia rápida e novamente nas mãos. E a sua demagogia que já demonstrou não ter limites, vai conduzir a uma instabilidade se o PSD não tiver, sozinho ou em coligação pós-eleitoral, a maioria parlamentar.
Acredito que Pedro Passos Coelho está preparado para governar o país. Acredito que se rodeará dos melhores, que não cederá a pressões. A sua determinação está a vista. O seu empenho, competência e o seu sentido de estado são conhecidos. Desenganem-se os aparelhistas do PSD que estarão já a esfregar as mãos. Os sacrifícios continuarão e estou certo que PPC dará o primeiro exemplo, com um Governo pequeno, com a eliminação de institutos, empresas e delegações inúteis e despesistas. PPC sempre o disse: O Estado tem de se centrar nas suas funções essenciais e cumpri-las eficazmente. E pode fazê-lo com menos cargos, assessores, com menos carros, menos mordomias, e muito mais eficiência.
O PSD tem obra feita na área social e preocupa-se com a dignidade humana e com os mais desfavorecidos. Essa tem de ser a prioridade na actual conjuntura, substituindo os cortes das pensões e dos baixos rendimentos perpetrados pelo PS, por medidas com menos impacto social e com muito maior eficácia para alavancar o nosso país. Para cumprir o défice não se pode colocar o acento tónico nos (parcos) rendimentos dos portugueses, quando o Governo não tem coragem de reformar o estado e por aí, por si próprio, começar a cruzada do controlo.
As instâncias europeias e internacionais vão estar de olho em nós. Mas vamos tomar este período menos bom, provocado pelo governo socialista, como um ganhar de balanço para arrancarmos em força para fora da crise.
quarta-feira, 23 de março de 2011
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Governo quer reduzir indemnização aos despedidos de 30 para 20 dias com limite de 12 meses
Flexibilidade e mobilidade são palavras de ordem na actualidade das relações laborais. A conjuntura de crise e a necessidade de adaptação das nossas empresas ao crescimento e internacionalização exigem que estes dois corolários possam ter aplicação efectiva no Código do Trabalho.
Portugal tem afastado investimentos estrangeiros pois é conhecida a rigidez da sua legislação laboral. Os grandes investidores, na fase preparatória analisam todos os factores e este é um dos principais. E não estamos em condições de perder investimentos, deixar de criar postos de trabalho, pela falta de coragem política em flexibilizar os contratos de trabalho.
No sector privado e agora até, embora em menor escala, no sector público, a velha máxima de um emprego para a vida é um conceito acabado e estranho à actualidade empresarial. Ninguém pense que arranja um emprego e se senta à sombra da bananeira até à idade da reforma. Há que produzir, há que ter zelo, há que contribuir para a cultura organizacional das empresas.
O Governo anuncia agora que se avizinha a redução dos dias a contabilizar para a compensação por caducidade dos contratos a termo e indemnização por despedimento, talvez para 20 dias por cada ano, com limite de 12 meses.
A medida em si parece-me bem e vai ao encontro do há muito esperado pelo sector empresarial, pela CCP e CIP. Apenas acho que a altura não é a mais indicada, ou pelo menos, que não existam outros esforços, até como exemplos, antes de entrar neste campo.
Os sindicatos discordam, claro. Sempre me preocupou o beatismo e radicalismo da maioria dos sindicatos. Não de todos mas de uma grande parte deles. Atiram-se como gato a bofe sempre que se pretenda implementar alguma medida, mesmo que ela pretenda, estruturalmente e a médio prazo, contribuir para mais produtividade das empresas, mais rendimento e, consequentemente, mais emprego. É a cultura sindical que temos em Portugal, quando noutros países, até da Europa, temos sindicatos proactivos e colaborantes, pois o fim último quer das associações patronais quer dos sindicatos é convergente: Aumentar o rendimento e o emprego.
Um trabalhador tem um contrato a termo durante dois anos. O contrato caduca. Porque é que a entidade patronal há-de pagar compensação se este trabalhador vai receber subsidio de desemprego e o que se espera é que ele se integre rapidamente no mercado de trabalho? Competirá às empresas exercer a função social do Estado? Claro que não!
Um trabalhador é despedido por inadaptação ou extinção do posto de trabalho. Vai, dentro de pouco tempo, receber subsídio de desemprego e deve procurar também a sua integração no mercado. A empresa está em dificuldades porque em caso contrário não o despediria. Será legitimo onerar a pequena e média empresa, já depauperada, com uma indemnização de milhares de euros? Será que estas indemnizações não colocam em crise a continuidade de laboração de uma unidade produtiva? Claro que colocam!
Ao contrário, quando as empresas fecham mesmo as suas portas, por insolvência, com despedimentos colectivos – estes bem fáceis de levar a cabo - os vencimentos dos trabalhadores ficam perdidos, tenham eles antiguidade de 1 ou de 30 anos, pelo que, quanto a estas, a alteração na lei poucos ou nenhuns efeitos terá.
Sou acérrimo defensor pelos direitos das pessoas. Igualmente pelos direitos dos trabalhadores, que têm protecção da nossa lei fundamental – a constituição – e estes direitos têm de ser efectivos e bem fiscalizado o seu cumprimento. E é importante que os empresários saibam que não é a facilidade de despedir trabalhadores que resolve problemas de solvabilidade e competitividade.
Como disse, não sou contra a medida. Acho, contudo, que deveria ser mitigada e a idade do trabalhador ser levada em conta. Mais facilmente um trabalhador jovem terá reintegração no mercado de trabalho, ao contrário de um trabalhador já perto da idade de reforma, para o qual deve a indemnização ser maior. Também a criação de um fundo para despedimentos será encostar a faca na garganta dos empresários, sendo pior a emenda que o soneto.
Não concordo com o timing. Porque é que o Governo não toma destas medidas fora de conjunturas de crise? Porque é que o Governo não toma medidas mais prioritárias nesta altura como acabar com empresas públicas que só existem para dar prejuízos e que muito contribuem para a situação de crise? Porque é que o governo não acaba com os chorudos vencimentos de alguns gestores públicos, antes de voltar a meter a mão no bolso àqueles que trabalham para (sobre)viver? E será que o Partido Socialista terá a coragem de aplicar retroactivamente esta lei, ainda que com regime transitório, como tem sido seu apanágio nos últimos tempos, abrangendo também os contratos em curso?
Há ainda que investir na formação dos empresários. Os bons princípios de gestão são a faca para este tempo de queijo esburacado que vivemos. É simples despedir trabalhadores, mas isso não resolve os problemas da economia. E se a cultura empresarial em Portugal, sobretudo nas PME’s evoluir um pouco mais, com o apoio de medidas governamentais, claro, certamente que se encontrarão novos caminhos, novos princípios e métodos de gestão que vão fazer arrancar a nossa economia e o nosso crescimento.
Portugal tem afastado investimentos estrangeiros pois é conhecida a rigidez da sua legislação laboral. Os grandes investidores, na fase preparatória analisam todos os factores e este é um dos principais. E não estamos em condições de perder investimentos, deixar de criar postos de trabalho, pela falta de coragem política em flexibilizar os contratos de trabalho.
No sector privado e agora até, embora em menor escala, no sector público, a velha máxima de um emprego para a vida é um conceito acabado e estranho à actualidade empresarial. Ninguém pense que arranja um emprego e se senta à sombra da bananeira até à idade da reforma. Há que produzir, há que ter zelo, há que contribuir para a cultura organizacional das empresas.
O Governo anuncia agora que se avizinha a redução dos dias a contabilizar para a compensação por caducidade dos contratos a termo e indemnização por despedimento, talvez para 20 dias por cada ano, com limite de 12 meses.
A medida em si parece-me bem e vai ao encontro do há muito esperado pelo sector empresarial, pela CCP e CIP. Apenas acho que a altura não é a mais indicada, ou pelo menos, que não existam outros esforços, até como exemplos, antes de entrar neste campo.
Os sindicatos discordam, claro. Sempre me preocupou o beatismo e radicalismo da maioria dos sindicatos. Não de todos mas de uma grande parte deles. Atiram-se como gato a bofe sempre que se pretenda implementar alguma medida, mesmo que ela pretenda, estruturalmente e a médio prazo, contribuir para mais produtividade das empresas, mais rendimento e, consequentemente, mais emprego. É a cultura sindical que temos em Portugal, quando noutros países, até da Europa, temos sindicatos proactivos e colaborantes, pois o fim último quer das associações patronais quer dos sindicatos é convergente: Aumentar o rendimento e o emprego.
Um trabalhador tem um contrato a termo durante dois anos. O contrato caduca. Porque é que a entidade patronal há-de pagar compensação se este trabalhador vai receber subsidio de desemprego e o que se espera é que ele se integre rapidamente no mercado de trabalho? Competirá às empresas exercer a função social do Estado? Claro que não!
Um trabalhador é despedido por inadaptação ou extinção do posto de trabalho. Vai, dentro de pouco tempo, receber subsídio de desemprego e deve procurar também a sua integração no mercado. A empresa está em dificuldades porque em caso contrário não o despediria. Será legitimo onerar a pequena e média empresa, já depauperada, com uma indemnização de milhares de euros? Será que estas indemnizações não colocam em crise a continuidade de laboração de uma unidade produtiva? Claro que colocam!
Ao contrário, quando as empresas fecham mesmo as suas portas, por insolvência, com despedimentos colectivos – estes bem fáceis de levar a cabo - os vencimentos dos trabalhadores ficam perdidos, tenham eles antiguidade de 1 ou de 30 anos, pelo que, quanto a estas, a alteração na lei poucos ou nenhuns efeitos terá.
Sou acérrimo defensor pelos direitos das pessoas. Igualmente pelos direitos dos trabalhadores, que têm protecção da nossa lei fundamental – a constituição – e estes direitos têm de ser efectivos e bem fiscalizado o seu cumprimento. E é importante que os empresários saibam que não é a facilidade de despedir trabalhadores que resolve problemas de solvabilidade e competitividade.
Como disse, não sou contra a medida. Acho, contudo, que deveria ser mitigada e a idade do trabalhador ser levada em conta. Mais facilmente um trabalhador jovem terá reintegração no mercado de trabalho, ao contrário de um trabalhador já perto da idade de reforma, para o qual deve a indemnização ser maior. Também a criação de um fundo para despedimentos será encostar a faca na garganta dos empresários, sendo pior a emenda que o soneto.
Não concordo com o timing. Porque é que o Governo não toma destas medidas fora de conjunturas de crise? Porque é que o Governo não toma medidas mais prioritárias nesta altura como acabar com empresas públicas que só existem para dar prejuízos e que muito contribuem para a situação de crise? Porque é que o governo não acaba com os chorudos vencimentos de alguns gestores públicos, antes de voltar a meter a mão no bolso àqueles que trabalham para (sobre)viver? E será que o Partido Socialista terá a coragem de aplicar retroactivamente esta lei, ainda que com regime transitório, como tem sido seu apanágio nos últimos tempos, abrangendo também os contratos em curso?
Há ainda que investir na formação dos empresários. Os bons princípios de gestão são a faca para este tempo de queijo esburacado que vivemos. É simples despedir trabalhadores, mas isso não resolve os problemas da economia. E se a cultura empresarial em Portugal, sobretudo nas PME’s evoluir um pouco mais, com o apoio de medidas governamentais, claro, certamente que se encontrarão novos caminhos, novos princípios e métodos de gestão que vão fazer arrancar a nossa economia e o nosso crescimento.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
2010 - O ANO DO RASTILHO
O ano acaba muito pior do que começou. Muito pior porque não há esperança que resista a tanta trapalhada que se vai fazendo, num país que ruma sem bússola ou gps, mas à vista (turva) daqueles que nos governam.
Seria óptimo terminarmos o ano com boas expectativas para o vindouro, mas realisticamente não é possível augurar tal optimismo, nem engolindo todas as 12 passas com o mesmo desejo.
Depois de todos os PEC’s, austeridades e afins, o país continua pior do que nunca. Qual pântano de Guterres, que perante o que se assiste era uma pocinha. Mas, e juro-vos que não sou nada pessimista, 2010 foi só o rastilho, porque a bomba rebentará brevemente em meados do próximo ano.
Depois do senhor engenheiro nos entrar no bolso com aumentos de IVA, redução de abonos de família e benefícios fiscais, reduções de vencimentos e outros tais, que já apanham todas as classes que não só a sacrificada classe média, os ratings da divida pública continuam a baixar e Portugal está em queda livre, aliás em voo picado, rumo à cauda da Europa.
Com FMI ou sem ele, 2011 vai ser um ano de pura recessão, com aumento de desemprego e aumento da pobreza, chegando em muitos casos a pobreza extrema, sem sinais de retoma à vista, que nos permitam respirar e depositar esperanças no nosso futuro e dos nossos filhos.
E, sem margem para dúvidas, virá um PEC V (santa incompetência dos 4 anteriores), com muito pouco para cortar que ainda existe (pois as mordomias do Estado e das Autarquias são para manter, são sagradas), não restará outra alternativa senão um despedimento em massa na função pública, aquela barriguinha que ainda tem uma gordurinha apetitosa para a faca afiada de José Sócrates.
Aliás, o PS vai dando sinal disso. Ainda na semana passada Vital Moreira assume frontalmente que se há que cortar na despesa pública, que se corte nas despesas com pessoal. Um aviso à navegação neste final de ano.
Estado e Câmaras Municipais não quiseram acordar quando tal se impunha. Foi fartar vilanagem com assessores, vereadores, directores, avençados e outros mais. Quadros orgânicos reformulados para muitas e novas chefias. Agora vai custar a todos, e muito mais, porque o estado das nossas finanças não se compadece com cortezinhos, mas apenas com cortes de espada, que deixarão muitas famílias sem perspectivas de futuro, sem condições, sem bens elementares e básicos.
As Câmaras Municipais que durante anos e anos engordaram os seus quadros, muitas das vezes com pessoas com baixa qualificação, vão ter de assumir a responsabilidade na 1.ª pessoa do singular ou plural, porque a culpa já não é, depois de tanta trapalhada, só do governo ou dos governos e solteira é que não é mesmo.
E essas pessoas, que durante anos não tiveram formação, não tiveram incentivo à qualificação, não têm aptidão para enfrentar o mercado de trabalho, que está saturado, e só revela (poucas) oportunidades às pessoas mais qualificadas.
Vamos preparar-nos para a bomba e para os estilhaços e ter uma esperança forte: Que alguém, seja o Presidente da República, seja a Assembleia, mostrem o cartão vermelho a este Governo, que não é nem de direita nem de esquerda, e que os partidos não se acobardem na hora da verdade e tenham a coragem de devolver ao povo o direito mais elementar de uma democracia representativa.
Nas autarquias e fruto do aperto de cinto que estrangula a cintura de muitas, associado à limitação de mandatos, iremos, já a partir do próximo ano, assistir ao abandono voluntário de alguns autarcas que se irão pôr ao fresco. Outros que paguem as dividas, porque eles não são contabilistas!
E os “yes men” que engordaram à conta do erário vão viver a sua orfandade sentindo na pele as dificuldades do mundo real, daquele que ignoraram e ajudaram a ignorar. Alguns contribuirão para a taxa de desemprego e outros aprenderão a viver sem mordomias ou falsos títulos.
Andámos enganados durante muitos anos. E o engano vai-nos custar caro. Quem vota não se pode desresponsabilizar das escolhas que fez. Como diz Carlos Drummond de Andrade, “Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas."
Seria óptimo terminarmos o ano com boas expectativas para o vindouro, mas realisticamente não é possível augurar tal optimismo, nem engolindo todas as 12 passas com o mesmo desejo.
Depois de todos os PEC’s, austeridades e afins, o país continua pior do que nunca. Qual pântano de Guterres, que perante o que se assiste era uma pocinha. Mas, e juro-vos que não sou nada pessimista, 2010 foi só o rastilho, porque a bomba rebentará brevemente em meados do próximo ano.
Depois do senhor engenheiro nos entrar no bolso com aumentos de IVA, redução de abonos de família e benefícios fiscais, reduções de vencimentos e outros tais, que já apanham todas as classes que não só a sacrificada classe média, os ratings da divida pública continuam a baixar e Portugal está em queda livre, aliás em voo picado, rumo à cauda da Europa.
Com FMI ou sem ele, 2011 vai ser um ano de pura recessão, com aumento de desemprego e aumento da pobreza, chegando em muitos casos a pobreza extrema, sem sinais de retoma à vista, que nos permitam respirar e depositar esperanças no nosso futuro e dos nossos filhos.
E, sem margem para dúvidas, virá um PEC V (santa incompetência dos 4 anteriores), com muito pouco para cortar que ainda existe (pois as mordomias do Estado e das Autarquias são para manter, são sagradas), não restará outra alternativa senão um despedimento em massa na função pública, aquela barriguinha que ainda tem uma gordurinha apetitosa para a faca afiada de José Sócrates.
Aliás, o PS vai dando sinal disso. Ainda na semana passada Vital Moreira assume frontalmente que se há que cortar na despesa pública, que se corte nas despesas com pessoal. Um aviso à navegação neste final de ano.
Estado e Câmaras Municipais não quiseram acordar quando tal se impunha. Foi fartar vilanagem com assessores, vereadores, directores, avençados e outros mais. Quadros orgânicos reformulados para muitas e novas chefias. Agora vai custar a todos, e muito mais, porque o estado das nossas finanças não se compadece com cortezinhos, mas apenas com cortes de espada, que deixarão muitas famílias sem perspectivas de futuro, sem condições, sem bens elementares e básicos.
As Câmaras Municipais que durante anos e anos engordaram os seus quadros, muitas das vezes com pessoas com baixa qualificação, vão ter de assumir a responsabilidade na 1.ª pessoa do singular ou plural, porque a culpa já não é, depois de tanta trapalhada, só do governo ou dos governos e solteira é que não é mesmo.
E essas pessoas, que durante anos não tiveram formação, não tiveram incentivo à qualificação, não têm aptidão para enfrentar o mercado de trabalho, que está saturado, e só revela (poucas) oportunidades às pessoas mais qualificadas.
Vamos preparar-nos para a bomba e para os estilhaços e ter uma esperança forte: Que alguém, seja o Presidente da República, seja a Assembleia, mostrem o cartão vermelho a este Governo, que não é nem de direita nem de esquerda, e que os partidos não se acobardem na hora da verdade e tenham a coragem de devolver ao povo o direito mais elementar de uma democracia representativa.
Nas autarquias e fruto do aperto de cinto que estrangula a cintura de muitas, associado à limitação de mandatos, iremos, já a partir do próximo ano, assistir ao abandono voluntário de alguns autarcas que se irão pôr ao fresco. Outros que paguem as dividas, porque eles não são contabilistas!
E os “yes men” que engordaram à conta do erário vão viver a sua orfandade sentindo na pele as dificuldades do mundo real, daquele que ignoraram e ajudaram a ignorar. Alguns contribuirão para a taxa de desemprego e outros aprenderão a viver sem mordomias ou falsos títulos.
Andámos enganados durante muitos anos. E o engano vai-nos custar caro. Quem vota não se pode desresponsabilizar das escolhas que fez. Como diz Carlos Drummond de Andrade, “Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas."
terça-feira, 23 de novembro de 2010
GASTROENTERITE
Quando avancei com a criação deste blogue, sabia a falta de tempo que me esperava. Escrevo de vez em quando, no meio de outros afazeres, para descontrair ou repousar.
Já lá vai um mês que decorreu o Festival Nacional de Gastronomia em Santarém, e só agora consigo deixar a minha opinião. Fui lá apenas uma vez. E chegou! Um grupo de amigos marcou um jantar e lá fui, curioso com o que ia encontrar, confesso.
Depois de comprar o meu bilhete de ingresso (sim, não sou dos muitos que tem livre trânsitos ou bilhetes à borla, apesar de já ter sido “director” da coisa) lá fui, atento aos pormenores, a beber, não copos de vinho, mas as imagens e vivências que ressaltavam no local.
Desiludido, muito desiludido, aliás!
Nada mudou. O Festival de gastronomia é exactamente a mesma coisa do passado. Antro de comezaina, mais fino para alguns que se deslocam, na bajulação de Secretários de Estado e Ministros, ao 1.º andar da Casa do Campino, e mais corriqueiro para outros que se sentam nos poucos restaurantes existentes nas antigas cavalariças.
Um Festival que queira ser Nacional, tem de ter novas atracções, tem de inovar. E não é com a mudança para só uma porta que se inova. Os Restaurantes são os mesmos há anos (vá-se lá saber porquê! E não me venham dizer que são as regiões de turismo que escolhem), os balcões em que era possível petiscar desapareceram, o artesanato mete fastio! Quem vê num ano vê nos outros, a mesma comida, os mesmos “mestres de cerimónia”…
Um Festival de Gastronomia para ter dimensão, projecção e continuidade, tem de apostar forte em duas vertentes: Uma temática, vocacionada para profissionais do ramo, com muita qualidade, e outra, muito atractiva, para o público em geral, em que o visitante se possa deleitar num percurso pelo país, degustando o melhor que se faz na gastronomia regional de cada zona. Tem de ter um espaço aprazível, ter concursos, movimento, divertimento, mas muita qualidade.
Quando por lá passei, pela direcção, apresentei ideias. A Casa do Campino dava uma boa zona de petiscos, em que, depois de adquirir um passe, se podia petiscar país fora, provando a boa gastronomia e vinhos que continuam a ser uma âncora turística deste nosso Portugal que não sabe aproveitar os seus recursos e cativar públicos. Na zona exterior, ao invés de se venderem colheres de pau e imperial, daria um bom palco cultural. Uma tenda com workshops de cozinha em que os peritos do ovo estrelado poderiam aprender mais qualquer coisinha, fomentando o gosto pelo cozinhar. Porque a gastronomia não é só comer, devorar, é saber apreciar e fazer. Assim como não é só para os “chefes”, pois esses podem fazer os colóquios e palestras que bem entenderem durante todo o ano e repetirem os eventos por todo o lado.
As minhas ideias esbarraram nos poderes instituídos, no regozijo (ou regurgito) dos almoços do 1.º andar até às 4 da tarde, no artesanato repetido e esgotado, nos amigos e enteados, enfim… esbarraram na mentalidade tacanha e pouco instruída daqueles que julgam ter o monopólio da sapiência gastronómica!
A Portugal e ao Ribatejo falta visão sobre o turismo e estratégia de captação de visitantes. Não vi no Festival de Gastronomia nem um único estrangeiro. Julgava eu que captar públicos de outros países seria a verdadeira acepção da palavra internacionalização. Em qualquer pequeno festival gastronómico a que fui, no Verão ou no Inverno, noutras localidades, sempre se viam estrangeiros, turistas. Aqui nem sombra!
Aqui fala-se de internacionalização, discute-se o conceito, trocam-se atordoadas, mas afinal, nada muda!
Ou seja, o festival actual não serve o público nacional nem o internacional.
E ainda bem que o Presidente do Festival e da Entidade de Turismo (deve-se chamar assim porque o pessoal passeia por lá) considerou que a crise não afectou o certame, em declarações à Comunicação Social. Talvez o ordenado e reforma acumulados não façam, felizmente, sentir as dificuldades que muitos portugueses atravessam.
Confesso que gostaria de ver os números. Deve ter sido o pior festival da história. Pelo menos a julgar pelos desabafos que se ouviam dos responsáveis dos restaurantes! E o pior é que se continuarmos com esta mentalidade, com este figurino gasto, um dos grandes ícones de Santarém vai definhar até à morte.
Deixo sugestões: Mudar de sitio ou reformular o espaço, apostar no petisco, abolir os almoços refastelados, envolver o mercado turístico, apostar na oferta cultural e inovar, fazer um road show pela Europa a promover o evento. O Festival tem de se desprender, de uma vez por todas, da naftalina dominante e tornar-se num evento bem produzido, moderno e atractivo.
Bom proveito!
Já lá vai um mês que decorreu o Festival Nacional de Gastronomia em Santarém, e só agora consigo deixar a minha opinião. Fui lá apenas uma vez. E chegou! Um grupo de amigos marcou um jantar e lá fui, curioso com o que ia encontrar, confesso.
Depois de comprar o meu bilhete de ingresso (sim, não sou dos muitos que tem livre trânsitos ou bilhetes à borla, apesar de já ter sido “director” da coisa) lá fui, atento aos pormenores, a beber, não copos de vinho, mas as imagens e vivências que ressaltavam no local.
Desiludido, muito desiludido, aliás!
Nada mudou. O Festival de gastronomia é exactamente a mesma coisa do passado. Antro de comezaina, mais fino para alguns que se deslocam, na bajulação de Secretários de Estado e Ministros, ao 1.º andar da Casa do Campino, e mais corriqueiro para outros que se sentam nos poucos restaurantes existentes nas antigas cavalariças.
Um Festival que queira ser Nacional, tem de ter novas atracções, tem de inovar. E não é com a mudança para só uma porta que se inova. Os Restaurantes são os mesmos há anos (vá-se lá saber porquê! E não me venham dizer que são as regiões de turismo que escolhem), os balcões em que era possível petiscar desapareceram, o artesanato mete fastio! Quem vê num ano vê nos outros, a mesma comida, os mesmos “mestres de cerimónia”…
Um Festival de Gastronomia para ter dimensão, projecção e continuidade, tem de apostar forte em duas vertentes: Uma temática, vocacionada para profissionais do ramo, com muita qualidade, e outra, muito atractiva, para o público em geral, em que o visitante se possa deleitar num percurso pelo país, degustando o melhor que se faz na gastronomia regional de cada zona. Tem de ter um espaço aprazível, ter concursos, movimento, divertimento, mas muita qualidade.
Quando por lá passei, pela direcção, apresentei ideias. A Casa do Campino dava uma boa zona de petiscos, em que, depois de adquirir um passe, se podia petiscar país fora, provando a boa gastronomia e vinhos que continuam a ser uma âncora turística deste nosso Portugal que não sabe aproveitar os seus recursos e cativar públicos. Na zona exterior, ao invés de se venderem colheres de pau e imperial, daria um bom palco cultural. Uma tenda com workshops de cozinha em que os peritos do ovo estrelado poderiam aprender mais qualquer coisinha, fomentando o gosto pelo cozinhar. Porque a gastronomia não é só comer, devorar, é saber apreciar e fazer. Assim como não é só para os “chefes”, pois esses podem fazer os colóquios e palestras que bem entenderem durante todo o ano e repetirem os eventos por todo o lado.
As minhas ideias esbarraram nos poderes instituídos, no regozijo (ou regurgito) dos almoços do 1.º andar até às 4 da tarde, no artesanato repetido e esgotado, nos amigos e enteados, enfim… esbarraram na mentalidade tacanha e pouco instruída daqueles que julgam ter o monopólio da sapiência gastronómica!
A Portugal e ao Ribatejo falta visão sobre o turismo e estratégia de captação de visitantes. Não vi no Festival de Gastronomia nem um único estrangeiro. Julgava eu que captar públicos de outros países seria a verdadeira acepção da palavra internacionalização. Em qualquer pequeno festival gastronómico a que fui, no Verão ou no Inverno, noutras localidades, sempre se viam estrangeiros, turistas. Aqui nem sombra!
Aqui fala-se de internacionalização, discute-se o conceito, trocam-se atordoadas, mas afinal, nada muda!
Ou seja, o festival actual não serve o público nacional nem o internacional.
E ainda bem que o Presidente do Festival e da Entidade de Turismo (deve-se chamar assim porque o pessoal passeia por lá) considerou que a crise não afectou o certame, em declarações à Comunicação Social. Talvez o ordenado e reforma acumulados não façam, felizmente, sentir as dificuldades que muitos portugueses atravessam.
Confesso que gostaria de ver os números. Deve ter sido o pior festival da história. Pelo menos a julgar pelos desabafos que se ouviam dos responsáveis dos restaurantes! E o pior é que se continuarmos com esta mentalidade, com este figurino gasto, um dos grandes ícones de Santarém vai definhar até à morte.
Deixo sugestões: Mudar de sitio ou reformular o espaço, apostar no petisco, abolir os almoços refastelados, envolver o mercado turístico, apostar na oferta cultural e inovar, fazer um road show pela Europa a promover o evento. O Festival tem de se desprender, de uma vez por todas, da naftalina dominante e tornar-se num evento bem produzido, moderno e atractivo.
Bom proveito!
CRISE E SOLIDARIEDADE
Solidariedade é uma palavra carregada de sentido. Ser solidário é ser co-responsável, é ser recíproco nas obrigações, apesar de muita gente a confundir com o dar.
Confesso que não entendo porque é que as pessoas acham que a solidariedade é acto próprio apenas dos momentos difíceis, das crises. Igualmente não entendo como é que pode haver aproveitamento da solidariedade.
No momento de crise que vivemos, a palavra solidariedade ouve-se em todo lado. Não há “cão nem gato” que não faça um espectáculo de solidariedade, uma recolha de alimentos, que encha a boca com esta palavra. O espírito natalício que já começa a ocupar os nossos corações e dia-a-dia, é propício para trazer ao de cima os sentimentos mais nobres relativamente ao próximo e em consequência, o marketing ou a politica aproveitar-se deles.
O pior é que estas acções são muito individualizadas, e a maior parte das vezes, com uma política de marketing subjacente. Venha ao shopping e traga um alimento, compre um porta-chaves para ajudar as crianças abandonadas, faça um clique no facebook e ajude uma mãe, etc. etc.
Ser solidário é ajudar o próximo, num acto de co-responsabilização social. É fazê-lo sempre que possível, com regularidade, é pensar e ter consciência de que, quem tem fome precisa de comer todos os dias e não só no natal, quem tem frio precisa de um abrigo constante, quem não tem roupa precisa de se vestir todos os dias.
E este tem sido o papel das inúmeras IPSS’s que existem em Portugal e no mundo. Não existem só em alguns períodos, são constituídas, na sua maioria, por dirigentes voluntários, vivem apertadas financeiramente, pedem ajuda, preocupam-se com a necessidade todo o ano!
E se a Solidariedade séria começa e acaba nestas instituições, que conseguem motivar os cidadãos para a responsabilidade social, para o voluntariado, são elas que devem ser apoiadas. Principalmente pelo Estado, pois elas substituem-se àquele em muitos e muitos campos da sociedade.
Mas este governo não entende isto. Este governo, obcecado com o défice e o corte cego, corta em todo o lado, até às IPSS’s que assumem, elas sim, um papel determinante nestes momentos de crise em que a procura de auxílio bate todos os recordes.
O Orçamento de estado corta os benefícios fiscais, corta a isenção do IVA das IPSS’s, corta nos acordos com a Segurança Social, deixa fundos comunitários sem aproveitamento, por falta de contrapartida nacional, para lares e centros de dia. O mesmo Governo que fomentou as candidaturas ao QREN para equipamentos de resposta social, é o mesmo que agora, depois de aprovados os fundos, nega a comparticipação para que esses projectos vejam a luz do dia. É um governo que, literalmente, dá com uma mão e tira com a outra!
Aflitas, as instituições recorrem às Câmaras, também elas endividadas e a precisarem da “solidariedade” do estado e de todos nós, a precisarem do mesmo governo que ainda em Janeiro dizia não ir cortar nas transferências para os Municípios e agora lá vai mais um corte cego. E os montantes necessários são tão altos que as Câmaras não conseguem dar resposta, apesar de ser reconhecido o mérito dos equipamentos.
Assim não há solidariedade que resista. É certo que a solidariedade promovida pelas IPSS’s continuará, fruto da acção dos homens e mulheres que sabem que vale a pena lutar pelos outros, pela dignidade humana, pela sobrevivência daqueles que mais precisam. E a verdadeira solidariedade continuará a ser esta, a desinteressada, a determinada, a que vence obstáculos herculeanos, que consegue suprir as ineficácias e incompetências dos governos, do estado.
É pena que não haja um olhar sério para a área social. É pena que não se pense na reforma das funções do estado, lançando um olhar mais atento para o Estado Social e o seu verdadeiro significado.
Estamos em crise. Crise financeira e de valores. O Governo lança programas de apoio às exportações e vangloria-se com eles. E as pessoas? E o emprego? onde ficam nessas politicas? Não deveria o Executivo lançar um forte programa de combate à pobreza, envolvendo os agentes que diariamente protagonizam esta luta? Estou certo que sim. A crise não é passageira. Veio para ficar. E as pessoas são os motores de qualquer sociedade.
Confesso que não entendo porque é que as pessoas acham que a solidariedade é acto próprio apenas dos momentos difíceis, das crises. Igualmente não entendo como é que pode haver aproveitamento da solidariedade.
No momento de crise que vivemos, a palavra solidariedade ouve-se em todo lado. Não há “cão nem gato” que não faça um espectáculo de solidariedade, uma recolha de alimentos, que encha a boca com esta palavra. O espírito natalício que já começa a ocupar os nossos corações e dia-a-dia, é propício para trazer ao de cima os sentimentos mais nobres relativamente ao próximo e em consequência, o marketing ou a politica aproveitar-se deles.
O pior é que estas acções são muito individualizadas, e a maior parte das vezes, com uma política de marketing subjacente. Venha ao shopping e traga um alimento, compre um porta-chaves para ajudar as crianças abandonadas, faça um clique no facebook e ajude uma mãe, etc. etc.
Ser solidário é ajudar o próximo, num acto de co-responsabilização social. É fazê-lo sempre que possível, com regularidade, é pensar e ter consciência de que, quem tem fome precisa de comer todos os dias e não só no natal, quem tem frio precisa de um abrigo constante, quem não tem roupa precisa de se vestir todos os dias.
E este tem sido o papel das inúmeras IPSS’s que existem em Portugal e no mundo. Não existem só em alguns períodos, são constituídas, na sua maioria, por dirigentes voluntários, vivem apertadas financeiramente, pedem ajuda, preocupam-se com a necessidade todo o ano!
E se a Solidariedade séria começa e acaba nestas instituições, que conseguem motivar os cidadãos para a responsabilidade social, para o voluntariado, são elas que devem ser apoiadas. Principalmente pelo Estado, pois elas substituem-se àquele em muitos e muitos campos da sociedade.
Mas este governo não entende isto. Este governo, obcecado com o défice e o corte cego, corta em todo o lado, até às IPSS’s que assumem, elas sim, um papel determinante nestes momentos de crise em que a procura de auxílio bate todos os recordes.
O Orçamento de estado corta os benefícios fiscais, corta a isenção do IVA das IPSS’s, corta nos acordos com a Segurança Social, deixa fundos comunitários sem aproveitamento, por falta de contrapartida nacional, para lares e centros de dia. O mesmo Governo que fomentou as candidaturas ao QREN para equipamentos de resposta social, é o mesmo que agora, depois de aprovados os fundos, nega a comparticipação para que esses projectos vejam a luz do dia. É um governo que, literalmente, dá com uma mão e tira com a outra!
Aflitas, as instituições recorrem às Câmaras, também elas endividadas e a precisarem da “solidariedade” do estado e de todos nós, a precisarem do mesmo governo que ainda em Janeiro dizia não ir cortar nas transferências para os Municípios e agora lá vai mais um corte cego. E os montantes necessários são tão altos que as Câmaras não conseguem dar resposta, apesar de ser reconhecido o mérito dos equipamentos.
Assim não há solidariedade que resista. É certo que a solidariedade promovida pelas IPSS’s continuará, fruto da acção dos homens e mulheres que sabem que vale a pena lutar pelos outros, pela dignidade humana, pela sobrevivência daqueles que mais precisam. E a verdadeira solidariedade continuará a ser esta, a desinteressada, a determinada, a que vence obstáculos herculeanos, que consegue suprir as ineficácias e incompetências dos governos, do estado.
É pena que não haja um olhar sério para a área social. É pena que não se pense na reforma das funções do estado, lançando um olhar mais atento para o Estado Social e o seu verdadeiro significado.
Estamos em crise. Crise financeira e de valores. O Governo lança programas de apoio às exportações e vangloria-se com eles. E as pessoas? E o emprego? onde ficam nessas politicas? Não deveria o Executivo lançar um forte programa de combate à pobreza, envolvendo os agentes que diariamente protagonizam esta luta? Estou certo que sim. A crise não é passageira. Veio para ficar. E as pessoas são os motores de qualquer sociedade.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
A Austeridade, O Governo e as Autarquias Locais
O país já não tem tanga. Se há um punhado de meses José Sócrates prometia 150.000 novos empregos, pouco tempo depois estava a criar as condições para colocar no desemprego cerca de 500.000 pessoas. Se há poucos meses se descia o IVA porque o Governo havia controlado o défice e se prometia não subir mais os impostos, agora vamos ter o aumento do IVA e a reclassificação dos regimes, passando muitos produtos de essenciais a supérfluos. Se há tão pouco tempo se aumentavam os salários, porque a recessão havia terminado, agora vai de cortes, de 5% para cima, sem falar nos abonos de família, que quase desaparecem.
O pior é que vamos sofrer, na pele, os desvarios deste governo socialista, pois as medidas são de corte cego, vão gerar muitos problemas sociais, e chegaremos ao fim de 2010, de 2011 e seguintes, sem cumprir as metas do défice.
Este governo falhou. Falhou redondamente. Impôs cortes, alegadas medidas de combate. E o resultado foi nulo. O que nos fará acreditar que estas medidas, agora com nome mais pomposo e amedrontador – Austeridade – produzirão algum efeito que nos alavanque para fora desta crise?
E como podemos aceitar estas medidas quando temos um estado gordo, que engordou e engorda diariamente com despesas correntes inaceitáveis para a conjuntura que vivemos. Os jantares, as admissões de pessoal sem controlo, os aumentos dos gestores públicos, e tantas mais despesas que não parecem vir a ser alvo de corte. Do outro lado a falta de estratégia. Porque os restantes países europeus cortam salários, sobem impostos, cortam benefícios sociais, Portugal vai atrás, com medidas paliativas e que se prevê não surtirem o efeito desejado de diminuição do défice das contas públicas. Um estudo recente aponta que Portugal se manterá em crise profunda até 2015, passando para último do pelotão europeu.
E atrás dos cortes directos aos cidadãos e empresas, vêm os cortes às autarquias locais. Será compreensível que assim seja. Se é necessário corte na despesa, ninguém ficará de fora. No entanto existem problemas reflexos. Se nas autarquias que estavam equilibradas, o corte de transferências pode ser amenizado com o eliminar de despesas menos urgentes, já nas autarquias que estavam em ruptura, estes cortes vão transferir-se para as empresas e cidadãos. Aumento dos já longos prazos de pagamento aos fornecedores, continuação dos atrasos nos apoios ao associativismo, atrasos no pagamento às juntas de freguesia que podem deixar de ter dinheiro para pagar salários e eventual aumento de taxas e preços aos consumidores. Pagará novamente o mesmo, e os orçamentos familiares vão estourando, porque as cordas partem sempre no local mais fraco.
Mas tem de haver coragem dos cidadãos, e ao mesmo tempo que nos revolta o despesismo do estado central, não podemos ficar indiferentes ao despesismo das autarquias locais. Sendo certo que há muitos casos de boa gestão de dinheiros públicos nas autarquias locais, também existem claros atentados ao interesse público, com a priorização de despesas inúteis, salários elevados sem retorno, má gestão de recursos humanos, animação despropositada, contratos leoninos a favor de privados.
A má gestão não pode estar só dependente da fiscalização do voto. São necessários objectivos e sanções. Se os funcionários da administração pública têm objectivos, são avaliados e a sua progressão está dependente da sua performance, também aos nossos governantes têm de ser impostos objectivos e limites e a mão ser pesada para os incumpridores.
É que, como se viu, quando a cabeça deles não tem juízo, o nosso corpo é que paga.
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