sábado, 18 de setembro de 2010

A Sapatilha e o Mocassin

Quem nunca ouviu falar no Princípio de Peter? Eu acho que poucas pessoas nunca ouviram falar nele, mas poucas o compreenderam. Só assim consigo compreender o que se vai passando nas empresa e principalmente pela política, em todos os seus níveis.

Acho que é preciso um exemplo para que todos compreendam o princípio de Peter. E tenho a certeza que muitos precisam de o entender para que se ponha cobro ao que se assiste diariamente.

Laurence Peter, um mestre da Gestão, teorizou sobre a incompetência, estabelecendo e descrevendo o nível da incompetência, a partir do qual uma pessoa já não tem competência para exercer o cargo que ocupa. Então começa a prejudicar as organizações.

Este princípio, que foi aplicado inicialmente à gestão das organizações, facilmente se transpõe para a política. O pior é que as pessoas, na maioria das vezes, não reconhecem o seu nível de incompetência, e avançam, até que algo de mau acontece.

O princípio de Peter é facilmente ilustrável com uma comparação. Entre uma sapatilha e um mocassin (também poderia ser o fato de treino e a calça de sarja, por exemplo).

A sapatilha é confortável, dá para correr, saltar, é descontraída e, em princípio, muita gente usa. Por sua vez, o mocassin é um calçado para todo o terreno. Não dá para correr, mas dá para andar depressa, vai ao campo e cai bem na cidade, pode entrar em festas e em ocasiões mais formais, onde a sapatilha não se sente bem e onde pode causar risota ou discriminação, e só algumas pessoas o usam.

As sapatilhas andam na pista ou no campo de futebol, mas insistem em pensar que não têm limites. Acham que podem ir a todo o lado, ascender a qualquer posição, mesmo àquelas a que só o mocassin pode aspirar. Mas a sua sede de poder e a força que alguns pés, sempre escondidos atrás das meias, lhe dão, levam a que o tal limite da incompetência, do princípio de Peter, seja ultrapassado.

Qualquer sapatilha gostava de ir a todo o lado. Ascender a todos os postos e pódios. Ascender até pode, mas não vai, necessariamente, cumprir o papel adequado.

E o que é que isto tem a ver com a política? Tudo! Quantas sapatilhas nós vemos por aí, sedentas de poder a acharem que podem ter qualquer posição e cargo, mesmo aqueles que ultrapassam, e muito, o seu limite da incompetência?

Quem não conhece os famosos caciques que movimentam os sindicatos de voto, almejando um lugar de Presidente, Deputado ou até Primeiro Ministro, porque o seu limite é o céu? E aqueles que, mesmo que reconhecidamente limitados, são empurrados por outros mais espertos, mas que não têm a coragem ou interesse em dar a cara?


A bem do nosso estado de direito e da nossa democracia, é bom que o falado limite não seja ultrapassado. Mas já Laurence Peter reconhecia que as pessoas tendem a ser promovidas até um lugar em que já são incompetentes. E depois é muito difícil despromovê-los!

Há que pensar muito bem antes.